sexta-feira, 3 de julho de 2009

AÇAÍ SUBSTITUI PRODUTO QUÍMICO EM EXAME


De simples fruta a ingrediente de contraste em exames radiológicos. O açaí, típico do Nordeste brasileiro, passou a ser uma opção inédita de contraste natural para exames de ressonância de abdome graças a uma pesquisa da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto.

Nos testes realizados no HC (Hospital das Clínicas) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, a ingestão de 200 ml (um copo) de polpa de açaí pelos pacientes submetidos a exames de ressonância melhorou sensivelmente a qualidade das imagens obtidas.

Desde o início do ano, 34 pacientes participaram do projeto, que tem a vantagem de ser natural e mais barato (uma dose comercial de contraste custa cerca de R$ 66, contra R$ 2 do açaí).

Segundo o professor do Departamento de Física e Matemática da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto Dráulio Barros de Araújo, que coordena a pesquisa, na análise do intestino, por exemplo, as alças normalmente ficam sobrepostas, mas, com o uso do açaí como contraste, as alças desaparecem do campo visual e restam somente os dutos na imagem.

Os órgãos que mais têm sido examinados são o pâncreas e o intestino, mas o estômago e as vias biliares também já foram analisados após a ingestão de açaí.

A pesquisa é feita pelo Departamento de Física e Matemática da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, o Centro de Ciências da Imagem do HC e a Embrapa de São Carlos, com o pesquisador Luiz Alberto Colnago.

Metais

De acordo com Araújo, a hipótese para essa propriedade contrastante do açaí está na presença de metais em sua estrutura, como o manganês e o ferro. "Não testamos outros vegetais, como o quiabo, por exemplo, que é rico em ferro. Nos EUA, foram feitos testes com blueberry [fruta típica do país]", afirmou.

Nos laboratórios da USP e da Embrapa, estão em curso estudos sobre a composição química do açaí, para confirmar as concentrações de ferro e manganês, além da presença de cálcio.

O trabalho de substituição do contraste teve início no ano passado, quando a equipe de Araújo começou a pesquisar os movimentos gastrointestinais e tirou da gaveta um projeto antigo de usar um produto natural.

"O professor Oswaldo Baffa usava iogurte com componentes de ferro, que era ingerido pelos pacientes para detectar sinais magnéticos no organismo, mas a idéia era utilizar algo natural. Surgiu, então, a idéia do açaí."

De acordo com Baffa, em 1988 teve início o desenvolvimento de métodos para o estudo do movimento gastrointestinal na USP de Ribeirão, que queria saber, por exemplo, qual era o tempo que o alimento ficava no estômago. Esse projeto pode ser considerado um embrião do estudo atual.

"Dávamos um alimento-teste com material magnético aos pacientes. Como o corpo humano é transparente ao campo magnético, sabíamos onde as partículas estavam", disse Baffa.

O problema, segundo ele, é que as partículas usadas eram inorgânicas, como magnetita ou ferrita. "Sabíamos das histórias de o açaí ser rico em ferro e decidimos testar. O resultado até agora é muito bom", disse o pesquisador.

A pesquisa, ainda não concluída, prevê agora apurar a receptividade da idéia pelas crianças e a comparação com os contrastes comercializados no mercado.

Nem sempre é necessário o uso de contrastes, mas, para algumas situações, o procedimento é considerado fundamental, de acordo com o médico do HC Jorge Elias Júnior, do Departamento de Clínica Médica da faculdade de medicina. "O açaí é uma alternativa interessante principalmente por ser natural e ter custo baixo."



Data Edição: 13/12/04
Fonte: Folha de S Paulo

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